quinta-feira, 3 de setembro de 2009

HUMANAMENTE POSSIVEL

HUMANAMENTE POSSIVEL

Carmenta tinha a cabeça mergulhada entre as mãos.

Estava diante do seu psiquiatra, nas muitas seções que
não conduziam à nada.

- Então a senhora se sente como num cubiculo onde
se fecha um eco - a senhora é como se sempre ouvisse
um segundo som - a senhora é um Eco - sempre o Eco.
E na sua infancia e adolescencia, também era assim?

- Era - mas como nasci assim achei que era uma coisa
natural. Eu conviví a vida inteira muito bem com esse Eco.

- Os seus exames de ressonancia magnetica, não acusam nada. Seu cérebro está perfeito. Nunca teve uma convulsão?

- Não, nada, absolutamente.

- Tem boa memória?

- Tenho.

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Voltando para casa, Carmenta se trancou em seu quarto.
A mãe estava em casa, mas Carmenta queria ficar só - uma
idéia, como nunca, surgira agora em sua mente.
- E se explorasse o Eco?

E o que aconteceu, foi que o Eco se transformou nela mesma
e desapareceu.

Quando ela relaxou a pressão, o Eco reapareceu e a impressão dela própria, ressurgiu.

Daí em diante, seus exercicios continuaram, até que um dia
ela vislumbrou por trás de sua propria imagem um campo
aberto com um cartaz grande de anuncio.

Passado um tempo, folheando uma revista, ela viu o campo
e o cartaz com o anuncio. Era uma cidadezinha de fazendas
e hospedagens e ela resolveu ir lá.

Se hospedou num daqueles sítios, até o dia em que caminhando por uma estradinha, viu vindo em sentido contrário alguém muito parecido com ela mesma.
Ela parou aguardando o que iria acontecer - e não aconteceu
absolutamente nada - a outra desapareceu e Carmenta
se sentiu reconfortada e equilibrada como nunca em sua vida. Começou realmente a viver. A viver como jamais havia
sonhado que pudesse viver.

Passeando agora mais aliviada pela cidadezinha, encontrou
uma senhora, que assim lhe falou:
- Eu tive uma hospede igualzinha à você - não é você, não?
Ela sumiu e nunca mais voltou, deixando seus pertences.

Carmenta sentiu curiosidade em ver os pertences da outra.
A dona da casa, briu uma porta embaixo da escada que
conduzia ao segundo andar e abriu as malas sobre a mesa
da sala de almoço.
O impacto foi grande - Carmenta reconheceu todos aqueles
objetos e os retratos tirados por aquela moça no jardim
da hospedaria, eram a sua propria imagem.

Não teve outro geito senão dar o seu endereço para a dona
dessa hospedaria, no caso da outra voltar.

Ao voltar ao seu quarto naquela tarde, veio-lhe à lembrança
uma briga feia que teve com sua mãe, tão feia, com uma
pessoa com quem ela nunca se dera bem, que Carmenta teve
a sensação de ter-se dividida em duas, desde as fugas
mentais que experimentara na sua infancia e adolescencia.

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